O Pleno desta semana, na última quarta-feira (16), realizou uma sessão especial para homenagear o ex-governador e ex-vice-presidente da República, Marco Maciel, que faleceu no último dia 12 de junho, aos 80 anos de idade.
Durante a solenidade, proposta pelo decano do TCE-PE, conselheiro Carlos Porto, foi aprovado à unanimidade um voto de pesar pela morte do 22º vice-presidente da República, que também foi senador e deputado.
A sessão teve como convidado o também ex-governador do Estado, ex-ministro e ex-prefeito do Recife, Gustavo Krause, antigo parceiro político de Marco Maciel, com quem conviveu por quase 50 anos.
Uma das últimas aparições públicas de Marco Maciel no Recife foi em novembro de 2011, durante cerimônia de entrega da Medalha Nilo Coelho, no auditório do TCE, ocasião em que foi homenageado pela Instituição.
HOMENAGENS – O presidente do TCE, conselheiro Dirceu Rodolfo de Melo Júnior, abriu a sessão destacando a importância do político para Pernambuco e para o Brasil. “Marco Maciel foi uma figura longilínea, elegante, de frases tão concatenadas quanto sóbrias, de urbanidade inflexível, avesso às adjetivações contundentes, convicto do diálogo como missão, da palavra como vocação e ofício e da ética como o lugar ideal. Ele está e estará no imaginário de todos os pernambucanos que viveram os anos 1970 no Brasil e se tornou uma onda que arrastou todos os que vieram depois até os nossos dias”, falou o presidente.
“Eu lembro da primeira vez que vi a figura de dr. Marcos Maciel, num jogo do Sport, na Ilha do Retiro, quando tinha apenas nove anos. Meu pai apontou para ele e disse que era o governador do Estado. Sem ainda saber, meu pai quis dizer que Marco Maciel seria aquele homem que, durante grande parte de minha existência, seria um dos principais líderes e protagonistas da vida pública pernambucana. E assim foi: ele perpassou inconteste e indefectível por todos os anos de minha juventude e por grande parte de minha vida adulta”, disse. “Com um currículo de perder o fôlego, ele vai continuar reverberando a sua figura icônica em muitos homens públicos que virão. Concretizador de sonhos coletivos, muitas realizações. Entre tantas coisas, criou o Procon, um serviço pioneiro no Brasil em defesa do consumidor, construiu 100 mil casas populares, beneficiando cerca de 500 mil pessoas. Com a personalidade devotada à causa pública, é um dos exemplos mais evidentes de agregação, exercendo todas as funções com a marca da elegância, da fidalguia e da liderança. Apaziguador e unificador de contrários em tempos de crise, Maciel foi um pacificador por vocação”, finalizou o conselheiro Dirceu Rodolfo.
Amigo pessoal de Marco Maciel, o conselheiro Carlos Porto pontuou grandes momentos da figura pública e lembrou da sua humildade. “Esse é o tema sobre o qual eu nunca gostaria de estar falando. Num sábado de sol reluzente, dia de Santo Antônio, por quem tinha tanta devoção, deixou-nos Marco Maciel. À sua biografia, por demais conhecida e já divulgada nos últimos dias, acrescentaria o que sempre foi sua filosofia de vida: ética, democracia, liberdade, justiça, honra, dever, piedade, humanidade e respeito. Talvez pela humildade, você nunca deu muito destaque, mas quem acompanha a história acrescenta ao seu currículo a assinatura da Carta Compromisso com a Nação, programa de princípios da Aliança Democrática, ao lado de grandes brasileiros já falecidos: Ulisses Guimarães, Tancredo Neves e Aureliano Chaves. Nós, mais próximos, sabemos que a redação foi dele e só isso viabilizou a aliança que elegeu Tancredo Neves e mudou a história do Brasil. Foi sua grande obra”, afirmou.
“Testemunhei ao seu lado episódios importantes da política nacional e via o respeito e admiração como era recebido de Norte a Sul do País. Sempre entendeu que ética e espírito público são qualidades que devem ser inerentes ao ser humano; que o homem público não se pertence, ele cumpre missão. Adeus, amigo e mestre, desculpe-me se não fui dos melhores alunos da escola Macielista, porém, dentro das minhas limitações, sempre procurei honrá-la”, concluiu Carlos Porto.
A conselheira Teresa Duere, outra grande amiga de Marco Maciel, também rememorou seus ensinamentos. “Falar de Marco Maciel me emociona. Sei que é fácil falar do cidadão, do político, do cristão, do imortal, do gestor… Eu passaria horas falando. Mas é difícil fazer uma síntese da essência desse ‘país’ que foi Marco Maciel. Gostaria de cumprimentar sua mulher, Anna Maria Maciel, que esteve junto a ele o tempo todo, com silêncio e determinação. Gostaria de registrar, de reconhecer o trabalho e o quanto nós também devemos a essa grande mulher”, disse.
“Hoje, muito falamos da Escola de Marco Maciel, com pessoas acima de qualquer suspeita dentro dessa vida política e geracional do Estado e do Brasil. Ele foi, sobretudo, um professor. Seu ser era respeitado. Quando ele dava uma palavra, todos entendiam e se curvavam. Esse homem soube ensinar na política, a um país e seu povo, o que é o respeito. Para mim, Marco Maciel ensinou muitas coisas, mas nunca tive um patrulhamento ideológico dele, sempre tive uma mão estendida. É uma grande falta, porque hoje procuramos os verdadeiros professores e temos muita dificuldade de encontrar”, completou a conselheira.
O conselheiro Valdecir Pascoal comentou que não teve o privilégio da convivência cotidiana com o vice-presidente, mas sempre o admirou. “Foi um exemplo de homem público, um conciliador nato. Honrando a arquitetura recifense, foi um construtor de pontes de diálogos, especialmente nas adversidades. Tinha a habilidade de um diplomata. A sabedoria, a humildade e a serenidade de um padre jesuíta, de um sacerdote, de um monge. Educado, discreto, disciplinado, bom, um homem e cidadão bem-aventurado, dotado de fé inquebrantável”, disse.
“Essas qualidades humanas do ex-governador fazem muita falta nos dias que correm. Tempos de intolerância, de busca desenfreada pela ribalta, de falta de civilidade no trato, da falta de empatia e de compaixão, de afetos distanciados e de escassez de espírito público. No momento em que a nossa ainda jovem democracia vem sendo fragilizada, a experiência de quem contribuiu decisivamente para a redemocratização do País, repito, faz muita falta. A imortalidade deste grande pernambucano, que falou para o Brasil e para o mundo, será ainda mais viva e marcante se continuarmos firmes nas veredas democráticas, zelando e aprimorando as nossas instituições, praticando o diálogo, o respeito e a boa convivência, procurando fazer o bem”, concluiu Pascoal.
O conselheiro Marcos Loreto também fez referência ao homem de diálogo, característica de Marco Maciel. “Deixou a sua marca de mansidão e humildade trazidas da sua religiosidade e da sua criação. Sempre deixou claro o seu lado político, mas nunca se negou ao diálogo incansavelmente afável, mesmo em momentos em que era comum aos homens públicos de projeção uma outra postura. Figura que se firmou pela liderança com uma simplicidade que o fazia sempre se sobressair. Uma personalidade que se impôs pela autenticidade da sua conduta e deixou esse exemplo rompendo as fronteiras de Pernambuco”, comentou.
O conselheiro Ranilson Ramos falou do profundo respeito que nutria pelo político e amigo. “Eu tenho apreço e respeito pela história de Marco Maciel. Nasci no dia 21 de julho, mesmo dia em que ele nasceu e, todos os anos, ele me ligava. Eu já ficava esperando suas felicitações. Tinha certeza de que ele ia me ligar. Dessa mesma forma, ele me ligou em 2002, quando fizemos a segunda campanha na mesma aliança, no mesmo palanque. Gostaria de elevar os agradecimentos em nome da minha família, especialmente em nome de meu pai, Gregório, pela relação de profundo respeito de um com o outro. Elevar meus sinceros sentimentos à sua esposa e aos seus filhos”, disse o conselheiro.
Fazendo menção ao seu perfil democrático, o conselheiro Carlos Neves falou que Marco Maciel teve uma vida dedicada à coletividade. “Um imortal tem essa capacidade de se aproximar de várias gerações, incluindo as futuras. Marco Maciel tinha uma característica muito importante nos tempos de hoje, o altruísmo lhe era peculiar. Numa lógica cristã humanista, ele sempre colocava o outro em primeiro lugar. Apesar de se dizer o contrário, muitas vezes, o parlamento e a política, pelos quais era apaixonado, são a essência do altruísmo. Aquele que sai de casa todos os dias para se entregar para a coletividade merece todo o nosso louvor, e foi assim que Marco Maciel viveu. Uma pessoa que viveu para a política, para a comunidade”.
“Sou grato pelos ensinamentos de um ser humano que merece todos os louvores por como homem público e como homem privado. Saibam que o homem que dedicou boa parte de sua vida à coletividade também deve ter o reconhecimento de ter sido um grande homem de família, como ele foi. Tenho certeza de que sairemos hoje ainda mais dignificados por termos homenageado um ser humano tão importante na vida dos pernambucanos”, complementou Neves.
A procuradora geral do MPCO, Germana Laureano, falou de sua habilidade de liderança. “Eu não tive a honrosa oportunidade de conhecê-lo pessoalmente, mas conheci, como a maioria dos pernambucanos e brasileiros, a sua história e seu exemplo – que muitas vezes se entrelaçou com a história do Estado e do País. A partida de alguém com uma trajetória tão cidadã é de ser lamentada, mas no atual contexto do país, marcado pelo primado da intolerância, a partida de alguém que se notabilizou pela construção do diálogo, pela verdade, pela liderança e pela firmeza mansa deixa um vazio dificílimo de ser preenchido. Espero que o seu legado possa ser honrado com ações inspiradas em seus gestos e sobretudo na força do seu exemplo, que fala mais do que qualquer palavra. Dessa forma, certamente, Pernambuco continuará falando para o mundo”, falou.
O ex-ministro Gustavo Krause relatou diversas histórias que mostram o lado humano do político homenageado. “Esse é um espaço de afeto, afeto que ele viveu intensamente e ao qual todos se referiam na sessão. Um afeto que não se encerra. Se ele estivesse aqui, ele estaria, inclusive, encabulado com tudo isso. Ficava envergonhado mesmo quando recebia um elogio. Cada um teve o seu brilhantismo e a sua capacidade de enxergar os atributos, as virtudes e a personalidade de Marco Maciel. Como já foi dito, foi um construtor de pontes. Foi, realmente, o ser humano menos imperfeito que eu conheci na minha vida”, afirmou emocionado.
Também participaram da sessão a procuradora-geral adjunta do MPCO, Eliana Lapenda, o Auditor Geral, Adriano Cisneiros, e os conselheiros substitutos Ricardo Rios e Marcos Flávio Tenório.
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Gerência de Jornalismo(GEJO), 18/06/2021