A disputa nas eleições de 2022 está longe de ocorrer, mas, em alguns estados, o cenário da briga já começa a se formatar. Tão logo finde-se a pandemia – talvez até antes mesmo disso -, os palanques eleitorais estarão armados a ferro e fogo. Na urgência por mobilizar votos, os políticos correrão para formalizar chapas e engatilhar suas campanhas. Porém, em certas localidades, o cenário tem decantado naturalmente pela própria natureza dos nomes postos no âmbito local. Muitos analistas políticos argumentam que, apesar de não ter sido um bom eleitor para candidatos a prefeito em 2020, Bolsonaro tenha condições de concentrar votos em candidatos a governador e, no mínimo, levá-los ao segundo turno em muitos locais. Assim, a aposta é que as eleições nacionais e estaduais tornem-se uma coisa só.
É o caso do Ceará, por exemplo. O governador Camilo Santana(PT), deverá apoiar um nome de coalizão, que pode ser o ex-prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio(PDT), ou o senador Cid Gomes(PDT). Reeleito em primeiro turno, Camilo construiu nome próprio no estado, apesar de ter fina ligação com a família Gomes. Notavelmente, sua condução natural deverá ser a de fortalecer as hostes de Ciro Gomes(PDT) mesmo estando filiado ao PT. O partido dos trabalhadores dá sinais de que vai lançar nome próprio ou compor com o ex-senador Eunício Oliveira(MDB) no sentido de funcionarem como palanque para Lula(PT). Por último, mas não menos importante, assim como em 2020, um nome bolsonarista pode se colocar no cenário da oposição a PT e PDT. A figura mais provável para este feito é o senador Eduardo Girão (PODEMOS).
Não muito longe dali, a Bahia vive casos semelhantes. Após 2 mandatos do governador Rui Costa(PT), um sucessor deve ser indicado para a continuidade de seu legado. O nome mais forte no momento é o do senador Jaques Wagner(PT), que já comandou o estado em duas ocasiões, além de ter sido ministro e deputado federal. Obviamente, Jacques será um robusto palanque para o presidenciável Lula(PT), seu correligionário e conterrâneo nordestino. Com apoio da máquina estadual, de um grande número de prefeitos e de deputados, o ex-governador e atual senador deverá enfrentar o ex-prefeito de Salvador, Antônio Carlos Magalhães Neto (DEM). Netinho, como é carinhosamente chamado, terminou seu mandato em 1 de janeiro de 2021, saindo da prefeitura com uma das maiores taxas de aprovação do país e elegendo seu sucessor, Bruno Reis (DEM), a contragosto do governo estadual, a quem faz oposição. Netinho ainda não sabe se apoiará Bolsonaro, apostando que a polarização nacional respingue nos eleitores baianos ou se dará palanque a Ciro Gomes(PDT) como nome de centro. Aliás, o PDT e o DEM estiveram juntos em centenas de prefeituras pelo país, incluindo Salvador, onde o PDT optou pela vice-prefeitura.
O Piauí, outro estado nordestino governado pelo PT, já vivencia o lançamento da candidatura do senador Ciro Nogueira(PP) como o candidato de Bolsonaro na disputa pelo governo estadual. Ele fará a contraposição ao nome indicado pelo PT para a continuidade do governo de Wellington Dias(PT), governador por 4 vezes. É provável que esta seja a disputa mais acirrada em toda a região, pois Ciro dispõe de um partido robusto e com ampla quantidade de prefeitos e deputados. Por sua vez, o PT comanda a máquina estadual e número equivalente de gestores municipais.
Em Pernambuco, estado governado há quase 16 anos pelo PSB, os socialistas devem novamente indicar um correligionário para a sucessão de Paulo Câmara, nome que tende a ser o do ex-prefeito do Recife, Geraldo Julio(PSB). Em reservas, o nome do secretário Zé Neto(PSB) também é trabalhado, embora conte com muito menos apoio que o outro. Do lado da oposição, vários nomes aparecem posicionados, mas sem firmar entendimento para chapa única. A deputada Marília Arraes(PT), ex-candidata a prefeita do Recife em 2020, já desponta muito à frente de seus adversários nas primeiras sondagens, mas depende da estratégia que o seu partido adote. Caso alie-se ao PSB em plano nacional, o PT não garantirá legenda a Marília e ela decidirá entre renovar seu mandato na Câmara, compor com o PSB ou buscar abrigo em outro partido. Fora da esquerda, há os prefeitos Anderson Ferreira(PL), Raquel Lyra(PSDB) e Miguel Coelho(MDB), este último dando mais sinais de que topa entrar na briga. Aliás, Miguel concentra cerca de 40% dos votos da região do Vale do São Francisco, o maior potencial avaliado nas pesquisas dentre todos os pré-candidatos em suas regiões de influência. Ele é filho do senador Fernando Bezerra Coelho(MDB), líder do governo Bolsonaro no Senado. Por último, há o nome do Coronel Meira(PTB), atual presidente da sigla no estado e defensor fervoroso de Jair Bolsonaro. Meira tem circulado por diversas regiões de Pernambuco desferindo duras críticas ao governo estadual e articulando a montagem do PTB. A Frente Popular idealizada pelo falecido ex-governador Eduardo Campos(PSB) e encabeçada pelo PSB ainda é favorita para 2022, mas deve ter bastante trabalho para vencer o pleito.
O maior colégio eleitoral do país também caminha para formatar seu cenário político. Ao que parece, o governador João Dória(PSDB) desistiu da empreitada presidencialista e vai se contentar com a tentativa de reeleição estadual. Ele deverá reeditar a chapa com o vice-governador Rodrigo Garcia(DEM) e enfrentar o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad(PT). No campo da esquerda, junto com Haddad, também se posiciona Guilherme Boulos(PSOL). Diante da votação expressiva que obteve em 2020, ocasião em que obteve cerca de 40% dos votos válidos no segundo turno, Boulos supera até mesmo o candidato do PT nas pesquisas de intenção estimuladas para o governo paulista. Na verdade, muitos analistas indicam que uma composição com Haddad na vice ou candidato a senador implicaria em uma chapa muito forte e com os dois pés no segundo turno, além, claro, de permitir a Lula uma entrada muito maior no eleitorado dessa região. Correndo por fora, estão os ex-governadores Márcio França(PSB) e Geraldo Alckmin(PSDB). Este último, depende de seu partido para indicá-lo a senador, ou de uma outra legenda que sustente seu nome. Tanto Alckmin quanto França são bem colocados nas pesquisas, mas tendem a entrar num cenário dividido e, da mesma forma que Boulos e Haddad, unindo-se em torno de uma candidatura única, podem beneficiar-se da má avaliação do governador Dória. Caso ele não consiga reagir durante o pleito, uma candidatura centrista poderia levar Alckmin ou França ao segundo turno junto com um nome da esquerda. A partir daí, o antipetismo do eleitor se encarrega do resto. De outra maneira, se acreditar que o presidente Bolsonaro realmente terá dificuldades de chegar ao segundo turno, João Dória pode montar seu palanque e disputar a Presidência da República apostando em raciocínio análogo: obtendo êxito ao ir para o segundo turno contra qualquer nome do PT, a rejeição ao partido faria dele um combatente primoroso.
O Rio de Janeiro, por sua vez, possui o cenário menos delineado dentre os citados aqui. O governador Cláudio Castro(PSC), recém-empossado após o impeachment de Wilson Witzel, deve concorrer à reeleição com dois apoios nacionalmente antagônicos: Rodrigo Maia(DEM) e Bolsonaro(sem partido). Ainda não se sabe através de qual legenda Castro irá concorrer, mas Maia está de malas prontas para o PSD de Gilberto Kassab após atritos internos com o presidente nacional do DEM, Antonio Carlos Magalhães Neto. No campo da esquerda, os nomes são Benedita da Silva(PT), ex-governadora do estado e atual deputada federal, e Marcelo Freixo(PSOL), atual deputado federal. Freixo dá sinais de que pode entrar na disputa pelo governo por outro partido, caso forme uma coalizão de esquerda no estado. De longe, o Rio de Janeiro vive o cenário mais aberto de todos, com um eleitor profundamente desconfiado após a prisão de 4 ex-governadores e o afastamento do último, eleito em 2018. A despeito disso, a gestão de um estado-vitrine como o Rio de Janeiro é capaz de catapultar qualquer nome direto para a política nacional, pela dimensão de ser um grande colégio eleitoral e pela visibilidade turística que possui.
E você? Como acha que será o cenário nos estados para 2022?