A polarização política e suas implicações nas eleições presidenciais

A polarização política e suas implicações nas eleições presidenciais

A polarização política é um fenômeno encontrado principalmente em eleições partidárias (os dois maiores partidos superam 90% dos votos entre todos os outros partidos existentes), como a eleição dos EUA, mas não é muito comum existir em eleições pluripartidárias, à exemplo do Brasil, pois quando muitos partidos estão envolvidos no pleito presidencial é normal encontrar ao menos três candidatos disputando a vitória do primeiro turno.

Esse fenômeno não é nada mais que a escolha da grande maioria dos eleitores entre dois candidatos de espectros opostos, e por isso já é algo que faz parte das eleições presidenciais Americanas que sempre se desenrola entre o partido Republicano e o Democratas. Já no Brasil, encontramos uma realidade muito diferente, atualmente temos 32 partidos aptos a participarem da corrida eleitoral, o que tornaria a polarização um fenômeno impossível, mas que nas eleições presidenciais de 2014 e 2018 se encontram fortemente presentes.

Mas como surgiu a polarização no Brasil? O que deu força para ela se manter por tanto tempo? Ela prejudica ou ajuda a democracia? É preciso fugir dela? Continue a leitura para descobrir.

A polarização política e o eleitor mediano

Antes de entrarmos definitivamente no tema “Polarização”, vamos passar antes no modelo do eleitor mediano desenvolvido inicialmente por Bowen (1943), depois Black (1948), e finalizando com Donws (1957).

Esse teorema conclui que o eleitor é facilmente conquistado por candidatos mais moderados, e que se encontre no espectro de centro (direita ou esquerda), o que explicaria as eleições Brasileiras de antes de 2014.

Enquanto o presidenciável Luiz Inácio apresentava-se como um político mais à extrema esquerda, com ideais sindicalistas e unido à movimentos sociais, do outro lado encontrava-se Fernando Henrique Cardoso, acadêmico, Ex-ministro da fazenda do governo Itamar, no qual elaborou o plano Real onde conseguiu a estabilização da economia, após o fracasso do plano Collor. FHC se posicionava a favor de privatizações e ideologicamente estava no espectro centro-direta onde também apostava em algumas políticas do Welfare State, o tipo político escolhido pelo eleitor mediano, segundo a teoria.

Mudança de cenário

Durante duas eleições (1994 e 1998), Lula, o candidato do PT, manteve seu discurso e não obteve sucesso. Foi no ano de 2002, eleições sem FHC e com uma reformulação do candidato Petista com uma posição mais à centro-esquerda, que veio a vitória e ainda a reeleição em 2006. A mudança de posicionamento do Lula para uma esquerda mais moderada dá força a essa teoria do eleitor mediano no Brasil.

Em 2010, tivemos uma indicação, do então atual presidente a sua sucessora, que seria a primeira mulher presidente da República, Dilma Rousseff, a ministra da casa civil do governo Lula. A vitória da candidata do PT veio em uma eleição sem polarização, mantendo a posição moderada entre continuar fazendo a economia crescer e dar assistência social aos mais carentes.

Já em 2014, a reeleição foi mais difícil por conta de problemas econômicos e escândalos de corrupção. Por esse motivo, a lembrança do bom desempenho econômico do Governo FHC voltou com as ideias de privatização do candidato tucano Aécio Neves, já que o Governo do PT apostou em fortalecer as estatais. Nesse período de 2014, a polarização começa a ganhar espaço e a teoria do eleitor mediano consecutivamente perde força com o início do Antipetismo. Vamos falar um pouco mais sobre os governos na era polarizada no Brasil, mas primeiro precisamos entender o que é o antipetismo.

O crescimento do Antipetismo

Após a redemocratização, o PT foi paulatinamente se consolidando no cenário político nacional, conquistando seu auge em 2002, com a eleição do Presidente Nacional do Partido, Luiz Inácio Lula da Silva. Com a trajetória alicerçada durante a década de 90, e diversas modificações na imagem, o Partido dos Trabalhadores se tornou um dos partidos mais importantes do país. Mas em 2004, as primeiras ranhuras começaram a surgir, e seguiram durante os anos seguintes.

No ano de 2004, o então assessor de assuntos parlamentares do governo Lula, Waldomiro Diniz, foi afastado do cargo após a divulgação de um vídeo em que aparece cobrando propina para arrecadar dinheiro para a campanha eleitoral de 2002. Já em 2005 estoura o escândalo do mensalão dentro do congresso, denunciado pelo então deputado federal Roberto Jefferson. Nada que pudesse abalar as bases Petistas, visto que, em 2010, o Partido conseguiu eleger uma sucessora, a primeira presidente mulher do Brasil, Dilma Rousseff.

Mas foi durante o segundo mandato da presidente Dilma, que já passava por momentos econômicos turbulentos, quase custando sua reeleição, que os maiores problemas do PT surgiram e junto com esses problemas, o antipetismo.

Várias figuras ilustres da cúpula petista já estavam presas após a finalização dos inquéritos do mensalão, iniciado em 2005. Em 2014 surgem na mídia as denúncias do Petrolão, no âmbito da Lava Jato, e com esse cenário formado, diversas manifestações começam a seguir, a mais notável em 2016 que se tornou a maior manifestação nacional contra o governo do PT, o que pode ter ajudado na cassação do mandato da então presidente Dilma, pelo Congresso Nacional. Com tudo isso, uma grande parte da população começou a desacreditar do PT, chegando a tomar aversão e dar início ao chamado antipetismo.

O que o antipetismo tem a ver com a polarização?

Com toda a descrença que uma parte da população ficou após os escândalos de corrupção dos anos 2002 até 2016, iniciou-se um forte movimento antipetista. Nunca se viu um país tão dividido como nas eleições presidenciais de 2018. E em suma, o antipetismo deu lugar a uma das maiores polarizações já vista no Brasil, de um lado os que votam no PT e de outro os que não votam de forma alguma, dando espaço para novos atores e correntes políticas surgirem.

A era da polarização brasileira nas eleições presidenciais

As eleições presidenciais no Brasil entre 1989 a 2006 foram marcadas pela vitória hegemônica de um partido, ou de uma vitória apertada de um partido sobre outros dois ou três. A partir de 2010, na “troca de bastão” dos candidatos do PT, observa-se uma pequena queda no percentual eleitoral, já demonstrando um pouco do desgaste causado pelas denúncias do Mensalão em 2005, a finalização dos processos nos anos seguintes e a prisão de muitos atores políticos da cúpula petista. Vamos observar o gráfico abaixo:

Observa-se que, com o início do antipetismo, a vantagem adquirida na era Lula começa a cair aos poucos, culminando nas eleições de 2018 com a derrota contra o Presidente Jair Bolsonaro, que apresentava diversas questões contrárias para ser o presidente eleito daquele ano.

Em 1989 com um primeiro turno tão diversificado; em 1994 e 1998 com a vitória de FHC em primeiro turno e com grande vantagem para o segundo lugar; e em 2002 e 2006 com uma vitória folgada no primeiro e segundo turno, demonstra que não existia uma polarização no Brasil.

A queda periódica de um partido seguido do crescimento de outros, com pautas de oposição, nos trás a evidência da polarização nas eleições presidenciais. E quais são essas tais pautas que fortaleceu o surgimento de uma forte oposição?

A ascensão da era Bolsonaro

Vestido do antipetismo, desde quando era deputado federal, Jair Messias Bolsonaro, viu com os escândalos de corrupção, a crise econômica no Brasil na era Dilma, os movimentos de rua contra o governo Petista, o crescimento do movimento conservador e o desejo de uma economia mais liberal, além do impeachment da presidente petista em 2016, uma grande oportunidade para acabar com a hegemonia do partido dos trabalhadores.

Apenas os problemas do PT não seriam suficientes para vencer a corrida ao Palácio da Alvorada, com todos os desgastes, havia um ceticismo em relação aos políticos, então era hora de um discurso de renovação, assim como o discurso de Collor em 1988 se intitulando “o caçador de marajás”(Os chamados “marajás” eram funcionários públicos que, por meio de processos fraudulentos, acumulavam vencimentos e benefícios exorbitantes).

Bolsonaro e o discurso antipetista, conservador e reacionário

O deputado Jair Bolsonaro sempre se destacou no congresso por declarações polêmicas, e foram essas declarações que o tornaram conhecido. Sempre mostrando o posicionamento contra discriminação das drogas, contra aborto, contra a criminalidade, somando a isso sempre rondava diversos esteriótipos relacionados a suas falas, mas foi com o discurso antipetista, anticorrupção, em prol da família tradicional, contra a criminalidade, em favor das religiões que ele chamou a atenção de uma parcela da população que antes não o conhecia, e até sua forma de fala “curto, grosso e sem meias palavras” o diferenciava dos demais, o que trouxe essa impressão de um novo político, para uma nova política.

Outra bandeira que agradou muito os eleitores foi a não utilização de verbas públicas para o financiamento da sua campanha presidencial. Juntando o discurso de oposição ao PT e a pauta de anticorrupção que também fazia lembrar indiretamente o partido dos trabalhadores, foi visto algo que nem pesquisas eleitorais previram: a vitória de um candidato opositor ao que era um dos maiores partidos do país, sem gastos exorbitantes em sua campanha, que se intitulava conservador, e dono de uma postura reacionária. Alguém improvável para vencer, e que fugia totalmente do perfil da teoria do eleitor mediano.

Mas será que essa polarização nas eleições de 2014, 2018 e provavelmente em 2022 pode prejudicar a democracia? Veremos abaixo.

Como a polarização pode ser prejudicial à democracia?

A Polarização sempre vai girar em torno de dois eixos, como na guerra fria onde o mundo se dividiu em dois lados, o Capitalismo e o Socialismo. Se fizermos uma análise, sempre que existe uma polarização toda a pluralidade de pensamento acaba sendo resumida em dois pólos.

Na questão eleitoral, acaba-se escolhendo um candidato apenas para se opor ao outro e para que o outro não volte ou não chegue ao poder. Tudo isso compromete o bom debate de ideias, a observação de propostas e acaba por cegar a visão política da população, pois o país não é uma moeda para ter apenas dois lados e com isso a representatividade fica comprometida. Se levarmos em consideração que a Democracia é o governo de todos, para o bem geral, a polarização nos traz apenas os lados de dois pólos.

O que se conhece como democracia?

A palavra democracia tem origem no grego demokratía que é composta por demos (que significa “povo”) e kratos (que significa “poder” ou “forma de governo”). Neste sistema político, fica resguardado aos cidadãos o direito à participação política, e a ideia de uma forma de governo exercida por muitos. Não é fácil definir a democracia, com o passar dos anos e com as experiências vividas a democracia ainda se mostra frágil e necessitada de amadurecimento. Por isso separamos algumas definições que o tempo deu à Democracia:

Democracia é doutrina ou regime político baseado nos princípios da soberania popular e da distribuição eqüitativa do poder, ou seja, regime de governo que se caracteriza, em essência, pela liberdade do ato eleitoral, pela divisão de poderes e pelo controle da autoridade, isto é, dos poderes de decisão e de execução. – dicionário Aurélio

A democracia é o governo do povo, pelo povo, para o povo.”  – Abraham Lincoln (1809 – 1865), presidente dos Estados Unidos

A capacidade do homem para a justiça faz a democracia possível, mas a inclinação do homem para a injustiça faz a democracia necessária.” – Reinhold Niebuhr (1892 – 1971), filósofo americano

A pior democracia é preferível à melhor das ditaduras.” – Rui Barbosa (1849 – 1923), político e jurista brasileiro

Muitas formas de governo foram tentadas, e serão testadas neste mundo de pecado e aflição. Ninguém finge que a democracia é perfeita ou onisciente. De fato, diz-se que a democracia é a pior forma de governo exceto todas as outras formas que foram testadas de tempos em tempos.” – Winston Churchill (1874 – 1965), estadista, militar e historiador britânico

A democracia não é um sistema para garantir que os melhores sejam eleitos, mas, sim, para impedir que os ruins fiquem para sempre”. –Margareth Thatcher (1925-2013) primeira-ministra do Reino Unido

A polarização no Brasil

Por mais que mudanças sejam necessárias para um país, mudanças de poder não podem acontecer de maneira emocional. Os Políticos devem ser escolhidos para representar a necessidade do povo.

A polarização seria uma expressão da necessidade do povo?

A atual polarização surgiu do descontentamento da população em relação à corrupção e má gestão das verbas públicas, das condições ruins de moradia, segurança, educação, saúde, emprego, além da sensação de impunidade. Na medida em que a situação do país se agrava, o Estado não consegue corresponder à altura com aquilo que ele foi “contratado” para fazer e o Judiciário demonstra falhas e brechas que ajudam o crescimento da impunidade, a tendência popular é suscitar um “salvador”.

No surgimento dessa figura que se apresenta oposta ao causador dos problemas enfrentados, então surgem dois eixos: os satisfeitos com a situação e os que acreditam que uma pessoa pode mudar toda a realidade. É o início de dois eixos extremos e da polarização, que pode se reiniciar com a perda de força de um dos eixos e o surgimento de uma nova oposição ao partido vencedor, mas também pode ocorrer o fim desse fenômeno. Existem duas possibilidades para o fim da polarização: ou ela perde força com o surgimento de novos atores políticos em destaque, ou ela dá o poder hegemônico para um dos lados. E em todos os casos o poder está nas mãos do eleitor.

Você concorda que existe polarização no Brasil? Para você ela é uma expressão da necessidade do povo? A polarização prejudica ou ajuda? 

Fontes:

ÉPOCA: Petrolão: uma aula de crime

Gazeta do Povo:Resultados de todas as eleições presidenciais desde 1989

G1: manifestantes fazem maior protesto nacional contra o governo Dilma

G1:Brasileiros vão às ruas contra a corrupção, o PT e o governo

Infomoney: Especial: Resumão completo sobre a Operação “Lava Jato” e o “Petrolão”

Memorial da democracia: NOVO ATOR POLÍTICO APARECE EM CENA

O GLOBO: 13 escândalos do PT no poder

Poder360: Origem, causas e consequências da polarização política, explica André Bello…

POLITIZE! Como a polarização é percebida no Brasil e no mundo

POLITIZE! Impeachment de Dilma: uma retrospectiva

POLITIZE! Operação Lava Jato: o que é?

POLITIZE! Espectro Político: só existem esquerda e direita?

POLITIZE! conheça todos os presidentes do Brasil!

POLITIZE!: O que é democracia?

Scielo: Do lulismo ao antipetismo? Polarização, partidarismo e voto nas eleições presidenciais brasileiras

Scielo: Demanda Mediana por Serviços Públicos e Reeleição: Evidências Empíricas do Modelo do Eleitor Mediano para os Municípios Brasileiros. UOL: A POLARIZAÇÃO POLÍTICA NO BRASIL: AS SUAS PRINCIPAIS CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS NO POSICIONAMENTO SOCIAL DA POPULAÇÃO BRASILEIRA

Scielo: Polarização política e partidária nos Estados Unidos (1936-2016)

Scielo: Existe polarização política no Brasil? Análise das evidências em duas séries de pesquisas de opinião.

Site Anpocs: Entre o petismo e o antipetismo: uma análise da polarização política no Brasil e suas implicações para a democracia

Site do TSE: Resultados

VEJA: Petrolão foi descoberto ‘quase acidentalmente’, afirma juiz 

Ravele Félix, estudante de Bacharelado em Ciência Política e Bacharelado em Relações Internacionais pela Uninter. Administradora do perfil Conservadorismo em Foco.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *