A ‘carnavalização’ de nossa cidadania.

A ‘carnavalização’ de nossa cidadania.

E chegamos na quarta-feira de cinzas e mesmo muitos de nossos foliões, já exaustos, cantam nas ruas do recife antigo para os quatro cantos de Pernambuco ouvir que chegou a quarta-feira ingrata, tão depressa, só pra contrariar…

Percebo que precisamos entender mais sobre o Carnaval, sua manifestação mais moderna, sabendo que há quem o venera, quem goste mais ou menos, e quem definitivamente não suporta. 

Indo para o trabalho na semana que antecedeu o carnaval, foi comum ver escolas isolarem ruas para desfilar um agradável bloquinho, que me roubaram risos, onde crianças cantavam marchinhas antigas, vestidas com fantasias lúdicas e inocentes.

E vendo isso nos perguntamos, mas ora, que mal há nisso? E as pessoas batalhadoras que utilizam essa festa como parte de seu sustento? As que vão apenas para brincar na paz? Será mesmo que ele é de todo mal?

Bem, é verdade que o carnaval tem origens pagãs e com inspiração no hedonismo, uma filosofia de entender o prazer como finalidade humana. Mas será que é esse unicamente o mal que contamina o carnaval? 

Não, definitivamente.  O grande problema é a evolução da carnavalização do cidadão brasileiro que esquece sua condição de trabalhador de dupla jornada durante todo o ano, para se viciar em um banquete de excessos e um festival de abusos cada vez mais comum. 

Antes dávamos a festa da carne encerrada na quarta-feira de cinzas, hoje, mal terminou o carnaval e de uma forma animalesca procuramos nutrir essa “cultura” de carnavalização, chegando a criar até festas com o nome de ‘carnatal’, onde o supérfluo se tornou essencial para nossa felicidade. 

Não estamos nos dando conta de que supostas celebridades que não possuem qualquer talento excepcional, sem um caminho sólido, se aproveitam da nossa vida cada vez mais torpe para se eleger à medida de todas as coisas, mantendo nossa condição de miseráveis de seus arbítrios. 

Nesse momento nós percebemos que há dois mundos completamente diferentes, uma artificial, onde a carnavalização nos tornou reféns de sorrisos lunáticos e animalescos, e outro, real, onde escutamos o choro de nosso próximo, que padece do básico em detrimento do show de horrores causado por demônios encarnados. 

O problema nunca será somente a árvore , mas prestarmos atenção aos frutos que ela dá… E nossa vida real, quando vamos começar a cuidar?

Otávio Lemos, advogado e ativista político e no combate à corrupção.

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